MAPA DA VIAGEM REALIZADA POR MANUEL LUÍS BRANCO PARA A SERRA DOS ARREPIADOS POR ORDEM DO GOVERNADOR RODRIGO JOSÉ DE MENESES EM 1780

Lauda 01

Mapa da viagem q. fizemos p.a a Serra dos Arrepiados, p.r[/]
ordem do Illm.o e Ex.mo Senhor D. Rodrigo Joze de Menezes Gover-[/]
nador desta capitania de Minas, atravessando o Rio Piranga na[/]
Barra do Baccalhao com rumo Agulhão sempre a Leste, afim[/]
de se reduzir a nossa sancta Religião a nascão dos gentios Porizes.[/]
Aos 12 de julho de 1780 principiamos, da Fazd.a de S. Antonio de[/]
Ibaguaçu, huma picada larga de fouce, machado, e enxada, e rompen-[/]
do se aquelle certão. com 20 sold.os som.e, e dous escr.os prettos, no dia 6 de[/]
Agosto, chegamos ao Rio da Casca, donde faz barra o de S. Anna, com a dis-[/]
tancia de quatro legoas q. semediram.[/]
Em o dia 21 de Agosto, do m.mo anno, partimos com toda a comitiva[/]
ja unida; atravessamos o Rio da casca, pouco acima da Barra de S. Anna,[/]
e apoucos passos atravessamos o de S. Anna; Rompendo o matto, fizemos pou-[/]
zo em vertentes do corrego de S. Joze.[/]
No dia 22 fazendo.se am.ma dilig.ca p.r mattos serrados, e altos espi-[/]
goens, fizemos pouzo no lugar chamado Balanço.[/]
No dia 23 continuando se am.ma, fizemos pouzo no Ribeiram de S.Bar-[/]
tholomeo.[/]
No dia 24 continuamos a m.ma jornada, e fizemos pouzo no Pan-[/]
tano, q. he huma planicie cheia de lama no mais alto da quelle mon-[/]
te: da qui manam duas vertentes; q. fazem barras no m.mo Rio de S. An-[/]
na.[/]
No dia 25, com m.to trabalho, fizemos pouzo no Rancho chamado[/]
do Palmitto, de pois de atravessarmos o Ribeiram de S. Luiz[/]
No dia 26 tornamos a passar o Rio de S. Anna pelas oito horas,[/]
e seguindo pela margem acima, pelo meio dia e tornarmos a passar, e com tra-[/]
balhoza jornada fizemos pouzo no Rancho chamado da Abelpaira?, margem[/]
do m.mo.[/]
No dia 27 continuamos pela margem dita, e pelas 10 horas[/]
e tornamos a passar; nesta passagem, com apressada experiencia se[/]
achou ouro com boa conta, adiente atravessamos hum alto monte, e[/]
descendo, tornamos ao m.mo Rio em cuja margem, depois de o passarmos, fi-[/]
zemos pouzo, chamado o Rancho do Pasto.[/]
No dia 28 atravessamos hum espigam, e volta do m.mo Rio, e sa-[/]
himos a ver as cachoeiras de S. Agos.to, q. sam duas no m.mo Rio, não longe,[/]
huma da outra, e p.r cima da segd.a, tornamos a passar o d.o Rio, e fizemos[/]
pouzo no Rancho chamado do vinagre.[/]
No dia 29 passamos o Ribeiram dos Estouros, nome antigo e p.r ser[/]
dia da Degolação de S. João Bap.a, quizemos se chamace, o Ribeiram de S. João[/]
e atravessando logo hum alto espigam, fomos fazer pouzo na Barra[/]
de S. Lourenço, q. he o m.mo Rio de S. Anna, donde se fez Rossa, e derrubada[/]
Fim da lauda

Lauda 02

Derrubada grande: esta este Lugar ao pe da Serra dos Arrepiados, alto,[/]
e vistozo, entre dous Ribeiroens, da qui se mandou buscar o mantim.to ao[/]
Rio da Casca, pelos escravos acompanhados de oito sold.os armados, p.r cauza[/]
do Gentio, q. sempre andava p.r aquelles lugares, nesta jornada gastaram[/]
oito dias.[/]
No dia 13 de Settembro, do m.mo anno, Sahiram cinco sold.os ar-[/]
mados, e cinco escravos inferiores p.a o Prezidio do Rio da Casca, e Barra[/]
de S. Anna p.a fortificarem o m.mo, e plantarem a Rossa, q. ahi m.mo se tinha f.to,[/]
em q.to estivemos a espera dos mais sold.os[/]
No m.mo dia seguimos nós pelo Ribeiram de S. Lour.co acima a Rumo do sul,[/]
e fizemos pouzo na margem do m.mo, e nelle achamos ouro com boa conta.[/]
No dia 14 seguindo p.a Leste a Rumo de Agulham, principiamos logo[/]
a subir a serra dos Arrepiados, em q. passaram dous dias no vencim.to de[/]
huma quebrada q. faz no mais alto da dita, e dobrando, a poucos passos,[/]
sendo sol posto do dia 15, chegamos ao corrego dos Arrepiados, donde[/]
pouzamos, e logo achamos ouro com boa conta.[/]
No dia 16 seguimos atravessando hum alto espi-[/]
gam, e dobrando, achamos huma descida m.to alta, em q. gastamos dia[/]
e meio; fizemos experiencia breve em hum Ribeiram, q. dizem os[/]
Praticos lhes parece ser o Mayguaçu, pelas qualid.es dos mattos, e correr[/]
direito p.a Leste, e tambem achamos ser minerar.[/]
Aqui julgamos, ficarem as Aldeas perto, pelas fumaças,[/]
e Rastos, q. vimos, e como se acabava o mantim.to, deste lugar vol-[/]
tamos p.a os Arrepiados, e seguimos, outra vez, p.a a Rossa de S. Lourenço[/]
No dia 19 chegamos, no dia 20 se deitou fogo à Rossa, no[/]
dia 21, e 22 se plantou.[/]
Antes q. della nos apartacemos, Resolvemos deixar sobre[/]
o Altar, em q. eu celebrava o Saccro Sancto Saccrificio da Missa, hum[/]
prezente de ferramentas q. constou de hum machado, huma fouce, du-[/]
as facas grandes, e tres pequenas, p.a q. o Gentio q. Sempre Rodeava a nos-[/]
sa comittiva, a viece achar, e Recebece, com hum signal de Ramo ver-[/]
de atado a cada peça, e venha no conhecim.to, de q. nossa intenção[/]
he toda cheia de humanida.e, e q. amamos a paz, e só queremos com a afa-[/]
belid.e Reduzillos à nossa Sancta Religião.[/]
Algumas chruzes fiz eu m.mo, e as deixei em seos cam.os, p.a q.e[/]
vendo, aquelles Barbaros, Arvore tam singular, p.r ella, misteriozam.e, se[/]
cheguem a Reduzir.[/]
Proximam.e tendo certeza, p.r alguns camaradas, q. foram a[/]
Rossa[/]
Fim da lauda

Lauda 03

Rossa de S. Loure.co, ver se a ferram.ta deixada, ainda existia, de que[/]
os d.os gentios já a tinham conduzido, e q. nos Lugares em q. ficaram as d.as[/]
chruzes, fizeram, os m.mos gentios, outras simelhantes, sem bolir nas q. es-[/]
tavam, D.s queira seja isto principio de Luz, e efeito de huma verda-[/]
deira conversão.[/]
O q. bem Rezultará, fazendo.se hum Prezidio no ultimo Ribei-[/]
ram, a q. chegamos, chamado Mayguaçu p.a melhor poderem as esquadras.[/]
circular aquelle certão. o q. senão pode facilm.e alcançar, sem haver cam.o[/]
de cav.o, e os sold.os depois de cançados, nada podem fazer.[/]
Das breves experiencias mineraes Remettemos as mostras p.a o[/]
Illm.o, e Exm.o Senhor ver.[/]
O certão he Sadio, alto, e de m.tas serras, do Rio da Cas-[/]
ca athe o corrego dos Arrepiados, e julgamos ter este vão. Seis Lego-[/]
as, pouco mais, ou menos, ainda senão medio, p.r falta de tp.o[/]
Dos Arrepiados p.a diente a Rumo do Leste poderiamos andar[/]
Legoa, e meia te duas.[/]
De m.tos Lugares, p.r vezes, hindo p.a a d.a Serra, avistamos à[/]
p.e dir.ta, no mais alto della, huma pedra alvoçam, m.to direita, e li-[/]
za, com figura de columna, e sobre esta, outra, da m.ma [...], com figura[/]
de Piramide, ainda senão pode examinar, de mais perto, este lu-[/]
gar.[/]
Para a p.e de Leste, do alto, se avista m.to certão de mattos gera-[/]
es até finalizar a v.ta[/]
O ribeirão do Mayguaçu corre p.a Leste, o corrego dos Ar-[/]
repiados corre p.a Norte, e inclina.se algum tanto p.a Leste, não se[/]
sabe donde faz barra, o de S.Lour.co corre p.a Norte, e o dos Estou-[/]
ros, ou de S.João Bap.ta, tambem p.a Norte, todos fazem barra em[/]
S. Anna, esta corre p.a Oeste, e faz barra no Rio da Casca, e este cor-[/]
re p.a o Norte, ate fazer barra no Rio doce.[/]
Muita p.e da Serra he composta da pedra chamada ba-[/]
panhuacanga, dizem ser bem signal de ouro.[/]
Os m.tos campestes, q. sobre ella apparecem, he p.r cauza da pouca[/]
terra, q. tem sobre as pedras e p.r isso sam os mattos carrasquenhos.[/]
Hé este Mapa, do q. naquelles certoes, vi o[/]
Capellam mais humilde de V. Ex.a[/]
Manoel Luiz Branco[/]
Fim da lauda.

O rio Manhuaçu foi citado no original como Mayguaçu cuja a tradução segundo GPT, seria:

A palavra "Mayguaçu" pode ser traduzida de forma aproximada como "Grande Rio" na língua Tupi-Guarani, considerando a decomposição das partes da palavra:
"May" ou "ma'î" significa "água" ou "rio" em Tupi-Guarani.
"Guaçu" significa "grande" em Tupi-Guarani.
Portanto, "Mayguaçu" poderia ser interpretado como "Grande Rio" ou "Rio Grande" em português.

A fazenda mencionada, Santo Antônio do Ibaguaçu: 

A palavra "Iba" em Tupi-Guarani se refere a "casa" ou "moradia". Em muitos contextos, é usada para indicar um local de habitação ou assentamento. Portanto, "Ibaguaçu" pode ser entendido como "Casa Grande" ou "Moradia Grande", sendo "Iba" relacionado à ideia de habitação e "guaçu" significando "grande".











Fonte: Arquivo Público Mineiro. NOTAÇÃO CC - CX. 79 - 20110-LOCAL S/L-CAIXA 79-ROLO 525

Comentários

  1. Parabéns pela postagem! Você é um ícone atemporal. Aguardo a transcrição!

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